Eu vi agora há pouco uma notícia que me deixou feliz, muito feliz. Mas ao mesmo tempo, muito triste... Por conhecer do assunto, principalmente, mas não simplesmente por isso. Espero me fazer entender conforme o texto vá passando.
Era uma notícia sobre um senhor de 90 e tantos anos que lia o diário de sua esposa todo dia para lembrá-la da história de vida deles... Ela tem Alzheimer, pelo jeito, que é a pior doença de todas. É a pior crueldade de todas.
Uma história pessoal básica: minha avó tem Alzheimer, e durante todo o ano de 2010 ela morou na nossa casa, e era eu quem cuidava dela; minha mãe trabalhava o dia inteiro e meu pai viajava semana sim, semana não. Eu era o responsável por ela... E foi uma época complicada.
Eu tive muita convivência com meus avós durante toda minha infância, com exceção apenas do avo paterno. Essa minha avó - paterna também, no caso - cuidava de mim quando eu tinha 3~5 anos, e ainda morava em São Paulo. E, até meus 10 anos, eu ia passar uma ou duas semanas das minhas férias na casa dela. Eu brincava de lego lá, era bom demais...
Minha avó sempre foi muito carinhosa. Frustrada, por n fatores - sociais e históricos, principalmente -, mas muito carinhosa. Ela nunca falava palavrões, sempre me tratou como um anjo - o que eu era perto dela, hahá. E tudo mudou com essa maldita doença: ela morava com a gente, mas não me reconhecia mais, não lembrava dos meus pais. Ela xingava a gente, se sentia acoada, não lembrava de quase nada; e em 10 meses a doença evoluiu de tal maneira que a gente teve que procurar uma clínica própria para cuidar de idosos. É ruim demais, vocês não têm noção.
E o que eu vejo nesse senhor me dá uma tristeza muito profunda. Por que você fica mais de meio século com a pessoa, sua vida se resume a ela; é um amor quase ideal, a ideia do companheirismo que o casamento tem que é o básico da nossa vida; talvez até o que procuremos com tanto afinco. E... Acaba.
Ela não lembra, nunca vai lembrar. Ela lembra por 10 minutos e depois esquece, e tudo o que você terá feito terá sido em vão - pra ela, no caso. Não digo aqui pra abandonar, nós vamos visitar a minha avó todo sábado quase. Meu pai vai toda semana lá. Mas isso é bom pra ele, por que pra ela, infelizmente, é indiferente. Nós vamos lá e, 20 minutos depois, se a gente passar na frente ela nos trata como se não nos víssemos há muito tempo.
É a pior doença de todas, com toda certeza eu posso falar isso.
E essa história está sendo compartilhada com "felicidade", como se fosse "fofa", mas ela é triste, é muito triste. É uma vida inteira que não volta mais. É a ideia de um só soldado contra uma imensa fortaleza, atacando com uma espada de madeira. Mesmo que a fortaleza não revide, ele nunca vai derrubar nem um tijolo dela... E continua tentando, por que é isso que o amor é. É não desistir.
O amor é não desistir.